Memórias do Capitão André Le Corbessier

Neste ano de Nosso Senhor de Hum Mil Oitocentos e Setenta, junto a pena ao papel para relatar minhas aventuras a Serviço do Rei e da Pátria, para Glória e a Honra e para minha Posteridade. Meu nome é Capitão André Le Corbessier, encontro-me nesta data servindo ao exército de sua Majestade Imperial, Napoleão III, na qualidade de Capitão do 127° Regimento de Hussardos, aquartelado na cidade de Paris.
Sou alto e bem constituído, com cabelos castanhos e olhos verdes; ouvi dizer que as senhoritas me acham atraente, mas não excessivamente. Talvez seja por isso que use uniforme sob medida e ostento uma certa atitude de arrogância militar como convém a um cavaleiro, pois sou tudo, menos tímido. Para falar a verdade, meus amigos me chamam de imprudente e aventureiro ao extremo, e honestamente, eu não poderia negar que geralmente sou apressado e também impulsivo.
Sou o segundo filho de uma prole de nove, de um próspero dono de loja na cidade de Paris. Quando criança, eu não era considerado excepcional em nada, exceto uma coisa: eu mostrava uma certa aptidão com a espada, na qual fui instruído por meu tio paterno, um cavaleiro aposentado de Grande Exército de Napoleão. Foi dele que ganhei minha fascinação por todas as coisas militares, e foi por sua recomendação que entrei na exclusiva “Academia Militar Armand” em Lyon, com a tenra idade de doze anos.
Embora árduo, este treinamento foi bom para mim, pois no dia de meu décimo sexto aniversário, um mensageiro veio à Academia trazendo péssimas notícias: meu pai havia sido cruelmente assassinado por assaltantes de rua no lado de fora de sua loja no Boulevard Elyseé. Voltei a Paris naquela mesma noite, onde tomei a espada ofertada por meu velho tio, e parti para vingar seu irmão. Foram-me necessários apenas alguns poucos dias para localizar e confrontar seus assassinos, os quais matei prontamente. Para evitar a represália do resto da gangue (que se tornariam meus inimigos jurados e que me procurariam por toda a parte) entrei imediatamente nos serviço do Imperador e recebi um posto em Marselha para os dois anos seguintes. Tenho profundo orgulho de haver vingado meu pai, mas ao mesmo tempo sinto vergonha por ter abandonado meus familiares em prol unicamente de minha segurança.
Minha virtude é minha incansável honestidade; meus vícios são um gosto excessivo pelas batalhas duras e pelo vinho tinto. Adoro roupas finas, bom vinho e comida bem preparada, e abomino fofocas e falatórios desonestos. Se fosse pressionado, teria de dizer que acima de tudo eu prezo o sabre gasto e a pistola que me foram dados por meu tio (que é meu mais querido confidente e mentor). Além desse laço familiar, não tenho nenhuma outra ligação, nem mesmo uma esposa ou uma amante de longa data, tendo devotado meus principais interesses e perícias a minha carreira. Para esse fim, tornei-me um grande esgrimista, um cavaleiro exímio e grande lutador. Durante esse tempo, também me tornei relativamente bom no trato em sociedade, em parte auxiliado por uma espécie de carisma natural que possuo. Talvez meu ponto mais fraco seja a incapacidade de realizar ações furtivas e às escondidas, coisa que considero típica de larápios.
Minhas metas de vida são simples: comandar minha própria companhia, ser reconhecido pelas minhas perícias marciais e um dia conhecer e me casar com uma dama refinada e de boa criação. Por isso, com estes objetivos diante de mim, voltei a Paris no dia cinco de Junho de 1870, para assumir me posto no 127°, e se Deus quiser, dar cabo à implacável gangue de criminosos que me segue aonde quer que eu vá.

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