O diário de Vlakua Sudyaff




Sou Vlakua Sudyaff. Sou imortal. Mais ou menos. A luz do meio dia, o calor constante de um fogo intenso e o ferro frio – estão entre as poucas coisas que poderiam destruir-me. Mas, por outro lado, talvez não.

Tenho um metro e oitenta de altura, o que causava forte impressão nos idos de 1780,  quando apaixonei-me pela primeira vez por uma mortal. Tenho cabelos louros e cheios que quase chegam aos ombros, mais para ondulados, que parecem brancos ob luz fluorescente. Meus olhos são de cor cinza, mas absorvem facilmente as cores azul ou violeta das superfícies a seu redor. E tenho um nariz bem pequeno e estreito, uma boca bem desenhada, só que um pouco grande demais para meu rosto. Pode parecer cruel ou extremamente generosa minha boca. Mas sempre parece sensual. Emoções e propósitos estão sempre refletidos em toda minha expressão. Tenho um rosto que está sempre animado, e acredito que o conjunto da obra me forneça uma [boa aparência].

Minha natureza de vampiro revela-se na pele muito branca e reflexiva ao extremo, uma descoberta que curiosamente não foi feita por mim e sim por minha primeira humana. Não, não se engane, não minha primeira vítima e sim meu primeiro amor, pois foi justamente esse sentimento que levou-me a atravessar o véu, e onde começa a vida que através desse diário pretendo contar.

Hoje os homens contam esse ano como “de Nosso Senhor de Hum Mil Oitocentos e Quarenta e Seis”, mas não desejo retomar a história através de números, e sim de uma paixão, pois quando pela primeira vez olhei além do véu feérico, o que vi transcendeu qualquer visão da perfeição que eu tenha visto no outro mundo. Era Lady Marie Sudyaff, então filha mais nova de uma poderosa família da aristocracia da nova europa. 

Até ali eu era Vlakua apenas, mas vejam só, eu estava perto da grandiosa paris. Era um grande castelo no campo, e o encontro foi o milagre que até hoje tento perpetuar. Logo fiz amizade com um rapaz simpático, a caminho da grande cidade, e pouco tempo depois lá estávamos, alugamos um quarto na Ile de la Cité, um mundo de descobertas que me trazia uma felicidade indizível, pois Paris era quente, linda e magnífica mais do que se podia imaginar.

Junto a Nicholas, que era um jovem aspirante a ator, ingressei na carreira. Um acaso que me elevou rapidamente, devido ao charme feérico que somente alguém como eu poderia possuir, aos principais palcos e a ser reconhecido e bem pago. Era meu caminho até Marie, que depois de nosso primeiro diálogo revelou-me a paixão pelo teatro. Minha fama cresceu e também meus contatos, até que consegui finalmente tornar-me Vlakua Sudyaff evitando que Marie fosse mandada para um convento. É meu maior orgulho.

Alguns diriam que não tenho virtudes, mas não é bem assim, pois poucas pessoas sabem se divertir como eu, e na hora de dançar, cantar, sorrir e conversar poucos me superam. Se tenho vícios, certamente eles estão relacionados a minha inclinação vingativa, mas acredite: nunca o faço por mero capricho: gosto quando alguém me escolhe como inimigo, pois é a oportunidade perfeita para experimentar brevemente o ódio, esse sentimento tão estimulante! Normalmente é dos odiosos que me alimento, e espero que possa compreender minha natureza de vampiro. Você deve imaginar que tenho predileção por roupas finas e um vestuário digno do nome que tenho construído durante séculos, pois não me intimido diante de qualquer evento grandioso, e nos momentos em que um discurso é necessário as melhores palavras sempre serão as minhas. 

Você deve imaginar que chegou a hora de minha amada Marie, cedo até demais, pois uma doença terrível a acometeu, e desde aquele dia tenho a procurado em cada rosto que passa diante de meus olhos. Eu amo o amor, o amor que tenho por Marie, que sempre permanecerá. 

Toda a vivência humana tornou-me um [bom ator] (aliás, ainda sou um grande amigo dos descendentes de Nicholas, meu antigo parceiro de teatro), deu-me também uma [boa condição econômica] e devo admitir que minha experiência no [trato social é boa], mas devo deixar a humildade de lado para assumir que tudo que obtive até hoje veio com meu [ótimo carisma]. Talvez meu ponto mais fraco seja o fato de eu ser fraco nas Artes Arcanas, mas acredito que por ter vindo do outro lado do véu, minha fraqueza é a perda de vínculo com meu mundo, e talvez por isso eu seja de [fraca eterealidade].

Você já sabe que amo ostentação e o convívio social, e para isso é sempre importante dinheiro e posses. Sabe também que sou um ator, então ocasionalmente reapareço na cena artística parisiense, talvez para ter minha imagem retratada por algum artista... Pois amo me exibir... Quem sabe registrem Vlakua Sudyaff nos livros, por ter interpretado alguma peça de forma grandiosa? Esse também é um ótimo objetivo. Mas finalmente, você sabe que procuro por Marie, em cada rosto que vejo, e acho que esse é o verdadeiro objetivo, e talvez o único de minha existência no mundo dos humanos.

Posses: Vlakua usa uma bengala que na verdade é um florete escondido. Em suas viagens, nada além de suas roupas, perfumes, sapatos e chapéus. Provavelmente carrega algumas jóias para conseguir transporte, se isso for necessário.

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